domingo, fevereiro 05, 2006

Para teu contentamento; Tribuna.

Então, cuidadosamente, leu as palavras sobre a folha branca, sentindo-se o ser mais indesejável do mundo, enfim, o mais isento e desprovido daquilo a que, involuntariamente, todos dizem ser o melhor que por aí se pode encontrar, e este , caro leitor, entenda-o como sendo o vasto e amplo mundo que se nos apresenta, todos os dias, ao olhar. No beco escuro em que, inevitavelmente, se viu cair, um ódio apaixonado desesperou-o ainda mais, mais do que a própria raiva que, todos os dias, o faz viver, mais do que o próprio veneno que lhe corre nas veias e que o faz, tal diabo, fervilhar de emoção. Como se fosse possível, ausentar-se, assim, de repente, deixando destruição para trás, como se apenas não quisesse saber da obra que viu nascer. Como se fosse possível, que um dia a mentira da sua respiração o largasse, como se, imagine-se, o seu choro não fosse tragédia maior, daquelas que fazem chorar os deuses, daquelas que fazem cair o Carmo e a Trindade, daquelas que fazem trovejar o brilhante céu azul, daquelas que arrebatam corações, daquelas que fazem o batimento cardíaco parecer um potencial suicida, daquelas que fazem um lobo das estepes, perdido, abocanhar a vida com os caninos que lhe foram concedidos:
Daquelas que desiludem, ao mais pequeno parecer de falsidade.
Daquelas que são, inapropriadamente resistentes.
Daquelas que, cedo ou mais tardar, fazem calar o cosmos.

Mariana d’As Luas de Júpiter